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  • Nunca queremos livrar-nos dos livros

    Conversa com José Bártolo e Jorge Silva, curadores da exposição “Para Ser Eterno Basta Ser Um Livro”.

    Num recente estudo, realizado pela Wallapop, plataforma digital de venda de artigos em segunda mão, concluiu-se que o livro é o objeto que os portugueses mais acumulam em casa e que mais têm relutância em deitar fora. Este é um bom ponto de partida para uma conversa com José Bártolo e Jorge Silva, os curadores da exposição Para Ser Eterno Basta Ser Um Livro – Editorial e Design do livro em Portugal no século XX, patente ao público na Casa do Design de Matosinhos, de 4 de maio a 27 de outubro. “Os livros dão conforto. Ter livros em casa dá-nos uma retaguarda confortável”, considera Jorge Silva, ele mesmo um colecionador ávido de livros. “Têm também uma dimensão simbólica. Comprados, oferecidos, ou herdados, os livros decoram-nos a casa e por isso não queremos livrar-nos deles. Nesta dimensão simbólica estabelecemos uma relação um bocadinho fetichista, o que acaba por ser um distúrbio”, explica o especialista em design gráfico. Para José Bártolo, o curador sénior da Casa do Design, “os livros funcionam da mesma maneira para quem está na área da investigação, pois trazem sempre identidade cultural”. “Os livros têm um valor documental, mas também têm valor narrativo, porque contam histórias. E há ainda um valor artístico, pelo lado da ilustração e das artes gráficas. É, portanto, um objeto para ser lido, mas também para ser visto”, aponta o também professor e investigador da ESAD. A exposição da Casa do Design mostra muito dessa paixão que os portugueses têm pelos livros sob as mais variadas perspetivas, mas a forma como está organizada pretende relevar a importância da edição dos livros no século XX. “Somos ambos colecionadores de livros e aqui apresentamos uma fração pequena dos livros editados em Portugal”, refere José Bártolo, complementando: “É uma exposição equilibrada, não direcionada para um público especializado, embora este tipo de público possa vir a encontrar coisas importantes e inéditas.” “Como é óbvio, a exposição tem a clara intenção de provocar fruição estética”, diz Bártolo, enquanto Jorge Silva levanta e véu sobre o que os visitantes poderão ver na Casa do Design: “A exposição está preparada para dar várias piscadelas de olho. Uma delas é dirigida a pessoas mais velhas, que seguramente vão sorrir, emocionar-se e olhar para determinados livros com nostalgia. Outra é dirigida aos jovens. O estudante de design de 20 anos, por exemplo, vai ver o livro de outra forma.” “Esta exposição é mesmo coisa de alfarrabista alternativo”, considera ainda Jorge Silva, enquanto José Bártolo nos traz a forma como foram organizados os temas e espaços da mostra. “Temos a consciência de que estamos também a dar uma quantidade de informação inimaginável e por isso a lógica da ordenação dos espaços da exposição pretende trazer pacificação a quem a visita”, explica. O primeiro dos quatro espaços temáticos da exposição foi batizado como “Explosões” e ali os curadores pretenderam fazer o visitante entrar no mundo dos livros como se estivessem eles mesmos a elaborar um livro. No entanto, é nesse espaço que surge uma cronologia, elaborada após aturada investigação. “Parece árida, mas não é. Ocupa uma parede e mostra os logótipos das editoras do século XX”, conta José Bártolo. “Relembro que esta é uma exposição de recoleção e é por isso que faltam na cronologia outras tantas ou talvez mais editoras. É declaradamente incompleta. Mas seguramente temos as editoras mais importantes, as maiores e as que tiveram um papel de rotura no seu tempo”, refere o investigador e diretor científico da esad–idea. Para Jorge Silva, esta cronologia “acaba por ser um acaso do design”. “Os logótipos, símbolos e monogramas também contam uma história das editoras. Têm o ar do seu tempo. Os grafismos foram sempre criados para a identidade dessas editoras”, aprofunda. O segundo espaço é dedicado às coleções, muitas delas icónicas, com a dos “Livros RTP”. “As coleções surgiram no início do século XX, inspiradas, e até copiadas, de editoras estrangeiras, sobretudo espanholas, e destinavam-se a fidelizar os leitores para que estes comprassem todos os números que saíam”, refere José Bártolo, que chama igualmente a atenção para “a forte identidade destas coleções”, também elas contendo uma forte harmonia gráfica. Na viagem pela exposição chegamos ao terceiro espaço, dedicado a grandes temas, que permitem reunir livros de épocas diferentes. “Aqui a nossa proposta foi agrupar livros dedicados a temas que marcaram Portugal no século XX, como a guerra, as revoluções e a política”, revela José Bártolo, convidando o visitante para um olhar mais atento a um subespaço desta secção, dedicado aos livros proibidos, “alguns deles muito raros, porque provêm de edições que alguém mandou destruir, tendo sobrado muito poucos”. Aqui há ainda espaço para os livros escolares e a forma como evoluíram ao longo das gerações. O quarto núcleo é o mais interativo e foi pensado para os jovens. “A anatomia do livro tem um lado pedagógico e está direcionado aos estudantes de design. Ali podemos acompanhar a feitura de um livro como peça de design: a matéria, o miolo, e a encadernação”, reporta José Bártolo. Num tom mais descontraído Jorge Silva lembra que “os jovens atuais têm de saber que os ovos vêm das galinhas e os bifes vêm das vacas”. “Neste núcleo ficam a saber como um livro é produzido”, concretiza.

Nunca queremos livrar-nos dos livros

Conversa com José Bártolo e Jorge Silva, curadores da exposição “Para Ser Eterno Basta Ser Um Livro”.

Num recente estudo, realizado pela Wallapop, plataforma digital de venda de artigos em segunda mão, concluiu-se que o livro é o objeto que os portugueses mais acumulam em casa e que mais têm relutância em deitar fora. Este é um bom ponto de partida para uma conversa com José Bártolo e Jorge Silva, os curadores da exposição Para Ser Eterno Basta Ser Um Livro – Editorial e Design do livro em Portugal no século XX, patente ao público na Casa do Design de Matosinhos, de 4 de maio a 27 de outubro. “Os livros dão conforto. Ter livros em casa dá-nos uma retaguarda confortável”, considera Jorge Silva, ele mesmo um colecionador ávido de livros. “Têm também uma dimensão simbólica. Comprados, oferecidos, ou herdados, os livros decoram-nos a casa e por isso não queremos livrar-nos deles. Nesta dimensão simbólica estabelecemos uma relação um bocadinho fetichista, o que acaba por ser um distúrbio”, explica o especialista em design gráfico. Para José Bártolo, o curador sénior da Casa do Design, “os livros funcionam da mesma maneira para quem está na área da investigação, pois trazem sempre identidade cultural”. “Os livros têm um valor documental, mas também têm valor narrativo, porque contam histórias. E há ainda um valor artístico, pelo lado da ilustração e das artes gráficas. É, portanto, um objeto para ser lido, mas também para ser visto”, aponta o também professor e investigador da ESAD. A exposição da Casa do Design mostra muito dessa paixão que os portugueses têm pelos livros sob as mais variadas perspetivas, mas a forma como está organizada pretende relevar a importância da edição dos livros no século XX. “Somos ambos colecionadores de livros e aqui apresentamos uma fração pequena dos livros editados em Portugal”, refere José Bártolo, complementando: “É uma exposição equilibrada, não direcionada para um público especializado, embora este tipo de público possa vir a encontrar coisas importantes e inéditas.” “Como é óbvio, a exposição tem a clara intenção de provocar fruição estética”, diz Bártolo, enquanto Jorge Silva levanta e véu sobre o que os visitantes poderão ver na Casa do Design: “A exposição está preparada para dar várias piscadelas de olho. Uma delas é dirigida a pessoas mais velhas, que seguramente vão sorrir, emocionar-se e olhar para determinados livros com nostalgia. Outra é dirigida aos jovens. O estudante de design de 20 anos, por exemplo, vai ver o livro de outra forma.” “Esta exposição é mesmo coisa de alfarrabista alternativo”, considera ainda Jorge Silva, enquanto José Bártolo nos traz a forma como foram organizados os temas e espaços da mostra. “Temos a consciência de que estamos também a dar uma quantidade de informação inimaginável e por isso a lógica da ordenação dos espaços da exposição pretende trazer pacificação a quem a visita”, explica. O primeiro dos quatro espaços temáticos da exposição foi batizado como “Explosões” e ali os curadores pretenderam fazer o visitante entrar no mundo dos livros como se estivessem eles mesmos a elaborar um livro. No entanto, é nesse espaço que surge uma cronologia, elaborada após aturada investigação. “Parece árida, mas não é. Ocupa uma parede e mostra os logótipos das editoras do século XX”, conta José Bártolo. “Relembro que esta é uma exposição de recoleção e é por isso que faltam na cronologia outras tantas ou talvez mais editoras. É declaradamente incompleta. Mas seguramente temos as editoras mais importantes, as maiores e as que tiveram um papel de rotura no seu tempo”, refere o investigador e diretor científico da esad–idea. Para Jorge Silva, esta cronologia “acaba por ser um acaso do design”. “Os logótipos, símbolos e monogramas também contam uma história das editoras. Têm o ar do seu tempo. Os grafismos foram sempre criados para a identidade dessas editoras”, aprofunda. O segundo espaço é dedicado às coleções, muitas delas icónicas, com a dos “Livros RTP”. “As coleções surgiram no início do século XX, inspiradas, e até copiadas, de editoras estrangeiras, sobretudo espanholas, e destinavam-se a fidelizar os leitores para que estes comprassem todos os números que saíam”, refere José Bártolo, que chama igualmente a atenção para “a forte identidade destas coleções”, também elas contendo uma forte harmonia gráfica. Na viagem pela exposição chegamos ao terceiro espaço, dedicado a grandes temas, que permitem reunir livros de épocas diferentes. “Aqui a nossa proposta foi agrupar livros dedicados a temas que marcaram Portugal no século XX, como a guerra, as revoluções e a política”, revela José Bártolo, convidando o visitante para um olhar mais atento a um subespaço desta secção, dedicado aos livros proibidos, “alguns deles muito raros, porque provêm de edições que alguém mandou destruir, tendo sobrado muito poucos”. Aqui há ainda espaço para os livros escolares e a forma como evoluíram ao longo das gerações. O quarto núcleo é o mais interativo e foi pensado para os jovens. “A anatomia do livro tem um lado pedagógico e está direcionado aos estudantes de design. Ali podemos acompanhar a feitura de um livro como peça de design: a matéria, o miolo, e a encadernação”, reporta José Bártolo. Num tom mais descontraído Jorge Silva lembra que “os jovens atuais têm de saber que os ovos vêm das galinhas e os bifes vêm das vacas”. “Neste núcleo ficam a saber como um livro é produzido”, concretiza.